sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

"Mamihlapinatapai"

Yagan era um idioma indígena falado por povos de Tierra Del Fuego, um arquipélago isolado que fica ao sul da América do Sul. Com o passar do tempo, o número de falantes nativos do idioma foi reduzindo até chegar à marca atual: um. Cristina Calderón é a única representante viva dos povos da Tierra Del Fuego. Ela é única que pode explicar com propriedade o mamihlapinatapai: é o olhar trocado por duas pessoas quando uma delas deseja que a outra tome iniciativa para fazer algo que ambas querem, mas que estão relutantes em fazer. Você pode não ser um yagan, mas, se já teve paixões adolescentes, sabe muito bem que ‘olhar’ é este.

segunda-feira, 31 de março de 2014

Na hora grande, naquela hora em que o fígado deveria estar metabolizando o dia e as suas impurezas, ele atravessava a cidade, vindo de um lugar qualquer, indo pra casa, sozinho. Atrás dele, pelo retrovisor, ninguém. À frente, tanta gente quanto havia no retrovisor. Com ele mesmo só o rádio, que tocava um som do Renato... “...mas é claro que o Sol, vai voltar amanhã...” E ele não podia contestar o rádio. Nem a natureza. “...tem gente que machuca os outros, tem gente que não sabe amar...” E a ele só cabia concordar. Os postes marcavam o avanço do carro e as suas luzes, que só se apagavam perto das seis, se renovavam de espaço em espaço, no para-brisas. Claro, escuro, claro, escuro...a luta entre a luz e as sombras. “...escuridão já vi pior, de endoidecer gente sã...” Pensou nela. Na escuridão. Na cegueira que faz parte da vida e que nos faz perder os caminhos. Praguejou piamente e se achou no direito porque, afinal, tinha passado seus últimos dias rezando. Aí pipocou no seu córtex frontal ventromedial a idéia da verdade. Ele andava bem cansado de busca-la. “...tem gente enganando a gente, veja a nossa vida como está...” Suspirou fundo, jogou os ombros pra trás, estalou o pescoço e acelerou para passar no farol ainda verde. “...nunca deixe que lhe digam que não vale a pena acreditar no sonho que se tem ou que seus planos nunca vão dar certo ou que vc nunca vai ser alguém...” Quando era garoto já sentia que seria assim. “no ano 2000 vou estar com 28 anos. E sozinho.”, dizia...Sentiu que isso, afinal, nem era tão importante assim. Lembrou de alguém que havia vaticinado a própria morte – e acertara. Ele, no entanto, só havia profetizado que seguiria só. “...se você quiser alguém em quem confiar, confie em si mesmo....Lembra que o Sol já vem...” Talvez não precisasse ser assim. Talvez se ele seguisse apartado das teorias, dos juízos, do preconceito, da imagem ideal de sí, da sua acidez cômica e do sarcasmo que disfarçavam a sua tristeza, das mentiras hirudóidicas pra evitar verdades hematômicas e do medo de encarar toda aquela sua orfandade... “...Quem acredita sempre alcança. Quem acredita sempre alcançaaaaaaaaa!...” Chegou a tempo de salvar a manteiga esquecida fora da geladeira, das formiguinhas minúsculas que voltavam a infestar o apartamento.

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

De outra aurora em claro... Insones insanos, porque não dormis?? Eu, dentre vós, o mais hirsuto, vos insulto: Parvos! estultos! néscios! imbecis! Lede, pacóvios, os versinhos que fiz: O mais pobre, o mais esnobe, o mais inculto, escravos ou reis, tanto faz como tanto fez! Eis que passando noites deste jaez restareis pela manhã qual cadáver insepulto, podre, pedra, enregelado e nauseabundo, malquerendo os apanágios desse mundo trocando-os todos por só mais um segundo - (seja ele o servo, o empregado ou o patrão) - sobre aquela laje morna, macia e narcoléptica, sede do onírico, túmulo da cinética, o prosaico berço de vossos àcaros: O colchão! Azêmolas, sois! Ide, pois, ao dormitório! Abandonai do facebook, o falatório! (William Sheakspeare Xavier, o Vigília)
Essa eu li hoje no blog de uma guria...Transcrevi sem corrigir. Tive que concordar: "Sexo é sexo. Fazer amor é lindo, é sublime, é encantador, é esplêndido. Mas sexo é bom pra cacete..... Sexo é aquela coisa que alguém te puxa os cabelos da nuca... Te chama de nomes que eu não escreveria... Não te vira com delicadeza... Não sente vergonha de ritmos animais. Sexo sem querer casar.... Sem querer apresentar pra mãe... Sem querer dar o primeiro abraço no Ano Novo. Dar porque o cara te esquenta a coluna vertebral... Te amolece o gingado... Te molha o instinto. Sexo porque a vida é estressante e dar relaxa. Sexo porque se você não der para ele hoje, vai dar amanhã, ou depois de amanhã. Tem pessoas que você vai acabar dando, não tem jeito. Sexo sem esperar ouvir promessas, sem esperar ouvir carinhos, sem esperar ouvir futuro. Dar é bom, na hora. Durante um mês."

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Lembrando da minha prima Taís...

Ela foi muito mais importante, pra muita gente, vivendo tão pouco, do que muitos outros que viveram muito mais, compreende?

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Pois é....

Divagando com a minha amiguinha Lia, cheguei a uma conclusão sobre algumas coisas que agora me soam próximas demais, vívidas demais, quando já deveriam de há muito serem esquecidas. É que indagado sobre coisas que talvez jamais aconteçam novamente e sobre a possibilidade de existirem segundas-chances, concluí: As células acham...eu teimo em não concordar!

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Constatação importante....

No seu aniversário de 70 anos, meu pai me disse que se sentia muito bem entre os familiares e amigos presentes. Se sentia feliz, satisfeito....Mas não conseguia descrever o por quê, além, claro, daquelas obviedades de se completar 70 anos com saúde. Eu olhei nos olhos dele, bem no fundo, e em segundos me veio isso: "Pai, a sua felicidade vem da paz que só desfruta aquele que esqueceu do bem que fez aos outros e jamais se lembra do mal que lhe fizeram..."

Não tenho mérito nenhum nisso. Só consegui repetir o que aqueles olhos me diziam.

E eu só tento ser um filho digno de um pai como esse...